8.10.07

Idosos cada vez mais vítimas de maus tratos

Em 2006, houve um idoso agredido a cada três dias. Três em cada quatro idosos confessaram-se vítimas de maus-tratos, negligência, abuso emocional e exploração financeira. A tendência é para aumentar. Três em cada quatro idosos confessaram-se vítimas de maus-tratos, negligência, abuso emocional e exploração financeira.

Isto é o que revela um estudo desenvolvido na Universidade do Minho, coordenado pelo professor José Ferreira Alves, do departamento de Psicologia, junto de 104 pessoas, com 65 anos e mais, em três centros de dia de Braga, que vivem de forma relativamente independente.

Feitas as contas, 73% das pessoas inquiridas naquele estudo dizem-se vítimas de maus tratos. Os resultados deste estudo vêm ao encontro dos números apresentados dia 8 de Janeiro pelo Núcleo Mulher e Menor, um projecto da GNR que estuda também episódios de violência cometidos com vítimas específicas, como idosos ou deficientes.

Segundo os responsáveis pela força militarizada, o número de casos de violência doméstica sobre idosos aumentou quase 60 por cento em 2006, registando assim um caso de agressão em cada três dias. O balanço mostra que foram abertos 139 inquéritos por maus tratos, mais 57 do que no ano anterior. Além destes, foram ainda abertos 25 inquéritos por situações relacionadas com negligência e abandono. Durante todos o ano de 2005, o número de queixas não ultrapassou as 82. Bragança e Almada lideram o ranking do maior número de queixas apresentadas.

Para o professor da Universidade do Minho, existem factores de risco entre os idosos potenciais vítimas de maus-tratos, destacando-se entre eles o género feminino, sem escolaridade, mais de 80 anos, viúva, vivendo com os filhos e percepcionando a sua saúde como má. Do outro lado da barricada, ser homem, com mais escolaridade, menos idade, casado, vivendo com a esposa e com a percepção de uma saúde boa ou razoável, são os indicadores que no estudo são referidos como aqueles que mais protecção dão contra os maus-tratos.

O tenente-coronel Albano Pereira, responsável pelo Núcleo de Investigação Criminal da GNR, por seu lado, não acredita que a violência contra idosos esteja a disparar em flecha. “O que se passa em relação aos idosos passa-se também em relação às outras vítimas de violência doméstica” disse, frisando: “A violência não aumentou. Há é uma maior sensibilidade das pessoas para recorrerem ao tratamento judicial”.No que toca aos maus tratos, o tenente-coronel Pereira explica que “há casos em que existe violência física sobre os idosos, mas há sobretudo situações próximas do abandono, com limite à liberdade das pessoas”, como foi o caso de Manuel Neves.

Caso que impressionou o País

Manuel Neves, de 74 anos, esteve durante meses fechado num barracão em Marinhais, em condições desumanas, por decisão do filho e da nora. Quando foi resgatado pela GNR, estava mal alimentado, tinha as unhas enormes e a roupa impregnada de urina e fezes. Manuel, a 2 de Janeiro, foi acolhido no lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia de Salvaterra de Magos. Muito magro, procura não falar do passado e tem-se mantido isolado dos restantes utentes, remetido a silêncios prolongados. “Estava sozinho”, afirma, dizendo-se satisfeito pelo acolhimento. Filho e a nora da vítima vivem em Almada e só se deslocavam a Marinhais de vez em quando. Presentes a Tribunal, saíram em liberdade mas foram obrigados a aparecer duas vezes por semana no posto policial da área de residência.

Manual de Boas Práticas

Os maus-tratos são acções ou omissões que desrespeitam direitos fundamentais da pessoa. Para além de possíveis efeitos físicos, é muito elevada a probabilidade de consequências emocionais e psicológicas muito gravosas. Qualquer pessoa pode participar junto da polícia ou do Ministério Público situações de maus-tratos de que tenham conhecimento. Esse é um dos inúmeros conselhos do “Manual de Boas Práticas: um guia para o acolhimento residencial das pessoas mais velhas”, uma iniciativa do Grupo CID – Crianças, Idosos e Deficientes. Cidadania, Instituições e Direitos.

Jornal Voz das Misericórdias

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